O que seria de Tormenta M&M

Tormenta não é o assunto do meu blog, nem será. Para ser sincero, não gosto do cenário; não tenho nada contra quem gosta, mas não gosto de diversos elementos. Elementos o suficiente para tornar insustentável uma campanha, para mim.

Mas esse não é o mérito da questão que deixo em jogo. Tormenta RPG foi lançado esse ano, e foi um sucesso de crítica por entre os blogs afora, apesar de eu discordar da maioria das resenhas. O fato é que o sistema foi feito sem cuidado, sem playtest (e ainda acho incrível que algumas pessoas apóiem essa medida), e acabou desequilibrado e quebrado numa porção de aspectos (que não deixarei aqui, se quiserem dar uma olhada nisso, sugiro a resenha da Spell).

Essas são as razões principais por eu começar a pensar que a Editora Jambô, que publica M&M e Tormenta RPG nacionalmente, teria tomado uma decisão melhor caso decidisse lançar Tormenta M&M, em vez do sistema novo baseado em D&D 3.X que está no mercado. Porém, não são as únicas.

A Jambô tem os direitos de cinco linhas, atualmente. São elas:

  1. Mutantes & Malfeitores - Quem acompanha meu blog deve conhecê-lo bem. É um sistema de ação e heroísmo que tem como foco super-heróis, apesar de não ser a única coisa possível de fazer nele - basta dar uma olhada em Agentes da Liberdade, Warriors & Warlocks e no Mecha & Manga), qualquer cenário de ação parece funcionar bem nele.
  2. Tormenta RPG - O sistema que está sendo abordado nesse artigo. É baseado numa versão um pouco modificada de D&D 3.X, com elementos de SAGA (alguns deles também usados em D&D 4E, aparentemente por coincidência), e de outros OGL. É específico do cenário Tormenta, que é um cenário de fantasia heróica, mas talvez "funcione" em outros cenários de fantasia.
  3. 3D&T - Outro sistema de ação e heroísmo. Tem um nicho relativamente parecido com M&M, porém tem foco na simplicidade. Também possui adaptações para Tormenta (inclusive o recente lançamento, Manual do Aventureiro Alpha).
  4. Reinos de Ferro - cenário de fantasia Steampunk, um tanto mais dark que os anteriores, mas também com bastante elementos de ação. Não sei maiores informações.
  5. Dragon Age - a mais recente aquisição da Jambô. Baseado no jogo eletrônico homônimo, da mesma empresa de Mass Effect, é... outro jogo de fantasia, mas é focado em níveis mais baixos, como D&D0. Ainda não foi lançado.
Olhando essa lista, eu acho que boa parte dos sistemas que a Jambô publica são redundantes. Tormenta RPG, Reinos de Ferro e Dragon Age lidam com um escopo muito próximo, e 3D&T e M&M podem, facilmente, entrar no mesmo nicho!

Não quero dizer que a Jambô deveria parar de publicá-los. Reinos de Ferro e Dragon Age têm seu próprio nicho de fãs, assim como Tormenta. A maioria das editoras tem uma porção de cenários que diferem apenas em elementos, mas a base parte do mesmo lugar, como Dragon Lance e Forgotten Realms, que são tão diferentes entre si quanto Reinos de Ferro e Tormenta, por exemplo (apesar de Tormenta, devido à sua ideia de "faça qualquer coisa", poder abarcar algo estilo Reinos de Ferro dentro de si).

Porém, eu acho que é uma lista grande demais para sistemas que têm tantas intersecções. M&M, Reinos de Ferro, 3D&T e Dragon Age possuem sua própria fanbase, que vai continuar usando os respectivos sistemas mesmo que haja equivalentes.

Mas Tormenta RPG... Tormenta era um cenário, e não um sistema, que usava D&D 3.X como sistema. Quando saiu a nova edição de D&D, a equipe por trás de Tormenta não gostou do resultado final, então resolveu lançar um sistema novo, baseado na antiga edição, para que Tormenta pudesse continuar funcionando.

Acontece que ter criado esse sistema foi uma perda de tempo. A promessa era que haveria retrocompatibilidade entre o sistema novo e a versão antiga de Tormenta. Isso é falso. Há alterações demais no sistema (inclusive na progressão dos níveis, no sistema de perícias, e em outros detalhes) que não permitem uma conversão entre a versão d20 e a versão OGL.

Se não há retrocompatibilidade, por que a equipe não converteu Tormenta para outro sistema melhor estabelecido? Já existe uma versão para 3D&T, mas ela não funciona como versão oficial, porque o 3D&T é um sistema muito simples - a própria equipe deve admitir isso, já que a versão oficial não é para 3D&T. 

Dragon Age não combina com Tormenta, que suporta personagens de nível bastante alto.

Reinos de Ferro não tem sistema próprio. Assim como a versão antiga de Tormenta, é baseado em D&D 3.5.

Então, dos sistemas da Jambô, a melhor opção era M&M. Combina muito bem com Tormenta: não há necessidade de itens mágicos, a progressão de níveis é geométrica (ou seja: rápida), o sistema é limpo, equilibrado e conciso, e é o melhor sistema que a Jambô tem em mãos!

Obviamente, não haveria retrocompatibilidade. Haveria necessidade de se construir um manual ou guia de conversão, ou então a equipe de Tormenta teria que se dar ao trabalho de criar fichas novas (ou fazer concursos para os fãs as criarem). Mas, como eu disse, a retrocompatibilidade do TRPG com relação ao Td20 é falsa, então não faria muita diferença.

Essa desvantagem seria compensada pelo fato de o sistema ser muito melhor que o publicado atualmente, e que a equipe não precisaria ter se dado ao trabalho de fazer o design do sistema (o que, sinceramente, parece que eles não sabem - especialmente levando-se em conta a ausência de playtest), e porque alavancaria as vendas de M&M.

A Jambô jogou um potencial danado pela janela apenas por causa da nostalgia de uma equipe. Não entendo muito de economia, mas eu não acredito que existiria prejuízo se a estratégia tomada tivesse sido essa, muito pelo contrário. Talvez a decisão de fazer um sistema novo tivesse um fundo econômico racional, mas, se foi o caso, não houve muito cuidado (insistindo de novo: que tipo de editora permite que um sistema SEM PLAYTEST vá para o mercado?).

De qualquer forma, isto é o que eu acho: Tormenta RPG foi uma decisão péssima. Tanto em termos de design, quanto em termos econômicos. A Jambô deveria investir num sistema realmente funcional, ou no mínimo forçar a criação de um.

Comentários

  1. Primeiro eu não conhecia o blog, vou tratar de acompanhar pra ver o material, parece que tem potencial

    Quanto a noticia em si, não posso dizer q ele está 100% errado, mas com toda a certeza não está 100% certo.

    É verdade que tormenta é um cenario, um bom cenário inclusive, e que poderia facilmente ser lançado para M&M, até adaptado sem grandes dificildades, existem diversos guias de conversão na net, até fichas de tormenta em M&M aqui neste forum.

    Existem porem dois problemas: Um, a jambo não acredita no M&M como está por causa da terceira edição. Nem que se torture o trio (sexteto) eles vão apostar nisso, esse é o motivo do livro que praticamente foi a mãe da terceira edição estar sofrendo o risco de nem ser lançado do brasil (pobre UP e pobre de nos por isso).

    Dois, a evolução de tormenta não tem logica em qualquer outro formado, fora o 3det. Mesmo q o mestre se esforçe (e muito) não é possivel em M&M vc fazer uma curva de evolução igual a da Lisandra em M&M. Herois de M&M podem passar meses de jogo sem ganhar nenhum poder novo, sem aprender golpes novos e nem seguer vão esgotar todos os que já tem. É sério isso, TRPG dá um novo poder por nivel, e espera q depois de umas 10 vez q vc usou (a cada treze lutas se espera q vc evolua de nivel, logico q um chefão conta como mais lutas q apenas uma) vc já ganhe um novo e use ele mais umas 10 vezes.

    Esse efeito de "enjoar" é o motivo de terem refeito o D&D pra tormenta.

    Pessoalmente eu não tenho nada contra usar tormenta em M&M, afinal de contas é o sistema mais equilibrado do mundo na relação mestre/jogadores. se o jogador não quer passar por um determinado desafio gasta um ph, faz um esforço e pronto, já era o desafio. esse controle do jogador sobre a trama pra mim é o diferencial do M&M, em D&D se o jogador não quer perder tempo jogando 26 testes de acrobacioas pra passar de um lado a outro da ponte quase destruida sobre o penhasco sem-fim azar dele, vai fazer assim mesmo.

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  2. Sem tem que ter um imbecil para falar o óbvio, né Alan?

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  3. E eu não jogo, ora.

    E serial: gostei do seu comentário.

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  4. Tormenta é a colcha de retalhos + falta de playtest. A única coisa bacana de tormenta é a área de tormenta.

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  5. Eu concordo sobre o potencial do M&M como sistema de regras para cenário Tormenta. Mas certamente o que mais influiu foi a Licença Superlink.

    Embora seja um sistema OGL, M&M possui sua própria licença, que era um pouco mais complexa, uma vez que o pessoal da Green Ronin precisava aprovar. Mas como o Serial 101 falou a questão do lançamento da 3ª Edição do M&M, que coloca em risco os lançamentos da linha em português.

    Mas a decisão da Jambô em lançar o Tormenta RPG parece ter sido motivada pela independência que a OGL oferece. Eu particularmente acho que para Tormenta o perfeito é Pathfinder RPG.

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  6. 1º - A Superlink é uma licença bastante permissiva, e mesmo necessitando de aprovação, não seria difícil a Jambô (detentora dos direitos de tradução do M&M no Brasil) conseguir a autorização.

    2º - Pathfinder RPG continua com os mesmos problemas de D&D 3.5, mas com alguns a mais. Tem menos problemas que TRPG, mas ainda tem problemas demais.

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  7. Incrível como um post tão grande nao diz nada realmente. O que me pareceu foi "blablabla publicaram Tormenta e nao mais para M&M; Buá."

    A decisão péssima possui volume considerável de vendas, muitos adeptos (mais que M&M), maior tradição no Brasil, e atinge um público mais interessante economicamente (novatos). Eu to tentando entender onde está o erro além da total falta de argumento racional apresentada.

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  8. O erro foi lançar um sistema mal acabado, desequilibrado e que sequer passou por uma fase de playtest em detrimento de um sistema bem estruturado, equilibrado e amplamente testado.

    Se você concorda ou não, a história já é outra.

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  9. é incrivel como se pode obter um pouco de sucesso na internet basicamente criticando algo. vou tentar no meu blog pra ser tão bem sucedido quanto este (?).

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  10. Ad hominem não vai te ajudar aqui, anônimo. Não adianta tentar desmoralizar meu sucesso inexistente, não tenho ambição disso.

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  11. O que você considera ruim, outros consideram bom. Tomenta RPG não é ruim, ele é ruim pra você. Mas parece que até hoje as pessoas não perceberam isso, aí sempre que posts com críticas são feitos, começa uma pequena guerrinha entre quem gosta de tormenta e quem não gosta.

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  12. Ai, caramba. Meu blog não é sobre Tormenta, cambada. O que eu estou fazendo é reclamar de um sistema que foi lançado sem o menor controle de qualidade (já que playtest é o mínimo que se pode esperar de um sistema de RPG), e que a Jambô poderia ter se utilizado de outro sistema.

    Sério, se vocês gostam do sistema de Tormenta, não precisam nem entrar aqui para discutir. Meu blog é sobre M&M, é óbvio que eu vou defender meu sistema.

    Se vocês querem mesmo insistir em discutir o assunto, tem um fórum que eu recomendo para isso:
    http://spellrpg.net/forum/viewtopic.php?f=12&t=900&start=10290

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  13. Parece que agora o sistema foi aprovado no mais difícil dos PLAYTESTs, a aprovação dos jogadores do sistema.

    Mas também acho que o sistema poderia ter um sistema de conversão ou um livro oficial para os jogadores que gostam de M&M, assim como para 3D&T também.

    Abraço!!!!

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  14. Desculpe-me se soar ofensivo, mas o público-alvo de Tormenta não é dos mais exigentes.

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  15. Velho... eu criei as primeiras versões oficiais das fichas de certos personagens queridos de Tormenta, para D&D 3.0 (quando isso de . não existia). Eu jogava na tora Tormenta nesse sistema quando não havia suporte para isso. Fui eu o responsável por Tork ser também um bárbaro/guerreiro (antes ele era só guerreiro, e antes que alguém como Cassaro diga que não existia a classe bárbaro em AD&D, bem, ela existia como kit e publicada pela Dragão Brasil, se Niele podia ser do kit charlatão... bem...).

    Na época me parecia uma boa coisa. E eu não era iniciante; havia jogado outros cenários, gostava da salada mista de Arton.

    Depois tudo foi me descontentando, a cada coisa que eles acertavam, desajustavam outras, e deixei de mão. Outro dia fui checar esse livro que é o foco da resenha e...

    ... porra, desequilibrado mesmo. Se eu percebo isso sem fazer um playtest, rsrsrs... imagina como DEVERIA ter sido se tivessem cumprido essa exigência básica.

    Pena que não cumpriram, né? :P

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  16. ps. se alguém tem a maldita DB onde essas fichas que citei saíram, já aviso que não fiz o Paladino, de jeito nenhum, isso foi outro cara.

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  17. Fora que alguns comentários apenas atestaram uma coisa que eu tinha razão: Tormenta é mais popular do que M&M (e não vejo razão para negar isso), então, se Tormenta M&M tivesse sido lançado, poderia, sim, servir para aumentar a popularidade do sistema.

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